Premiada por sua atuação em Falas Negras, Tatiana Tiburcio fala sobre representatividade negra

Moradora do Engenho de Dentro, Zona Norte do Rio, a atriz de 44 anos emocionou o Brasil ao interpretar a doméstica Mirtes Souza, no especial “Falas Negras”, exibido em novembro de 2020, na Rede Globo. A visceral atuação como a mãe de Miguel Otávio, 5 anos, que morreu após cair de um prédio sob cuidados da sua patroa, trouxe grande reconhecimento à carreira da artista, como o prêmio de Melhor Atriz pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). “Foi muito emocionante ganhar pelo projeto, pela personagem e pelo que a dor dessa mãe representa para todos nós brasileiros que sonhamos um mundo mais justo e igualitário em seus direitos”, revela.

Além da atuação, Tatiana também foi preparadora de elenco do projeto que fala sobre o racismo estrutural na sociedade. “Estamos aqui, sempre estivemos aqui. Grandes, poderosos, atuantes e competentes. Como disse Viola Davis: ‘O que falta para uma atriz negra é a oportunidade’. É isso que acontece no Brasil. Falta oportunidade para nos fazermos presentes com a nossa arte”, afirma. Apesar dos avanços, a atriz alerta para a necessidade de representatividade negra nas produções. “Sei que um pensamento construído e enraizado na formação da nossa sociedade por quase quatro séculos não se desfaz rápido. Já tivemos ganhos e avanços nessa caminhada, mas ainda estamos longe de poder nos acomodar e acreditar que resolvemos a questão”.

Com esse objetivo, a atriz não quer saber de ficar parada e começa 2021 com muitos projetos. Tatiana fará uma participação na série médica Sob Pressão e também está adaptando um espetáculo do ano passado, que foi dirigido por ela e Renato Farias, sobre a obra de Conceição Evaristo, além de fazer parte da direção de uma obra com o título provisório de “MACBETH 2020”, ao lado do ator Luis Lobianco.

Carreira e inspiração em Ruth de Souza

Nascida na cidade do Rio de Janeiro e mãe do pequeno João de 11 anos, Tatiana Tibúrcio começou a atuar aos 10 anos com a mãe. Se formou na Escola de Teatro Martins Penna e em História da Arte pela Uerj. Atuou na Cia dos Comuns e, como atriz e diretora de movimento e coreografia, na Companhia Amok Teatro. Dirigiu, ao lado de Lázaro Ramos, o espetáculo “O Método Gronholm”, com Luis Lobianco, Raphael Logam, George Sauma e Anna Sophia Folch. Fez a preparação de elenco do filme “Medida Provisória” e do especial “Falas Negras”, ambos com direção de Lázaro Ramos.

Dentre os trabalhos que marcam sua trajetória está o espetáculo “Candaces – A Reconstrução do Fogo”, pela cia dos Comuns, e a novela Sinhá Moça, onde conheceu a atriz Ruth de Souza, sua maior inspiração. “Ela foi uma das maiores desbravadoras de caminhos que tornou meus passos possíveis e de tantos e tantas que vieram antes de mim. Eu tive o privilégio de me tornar amiga da minha maior referência”, relata. Dessa amizade, surgiu o projeto NEGRO OLHAR – Ciclo de leituras dramatizadas com autores e artistas negros, pelo qual Tatiana recebeu o Prêmio Movimentos Criativos do Itaú Cultural.

Em 2015, foi indicada como melhor atriz no Prêmio Shell de Teatro, pela atuação em “Salina (A Última Vértebra)”, realizado pela Cia Amok Teatro. O encontro com as técnicas do AMok e o conhecimento adquirido pelo trabalho, calçado nas referências de matriz africana pela Cia dos Comuns, a ajudaram a desenvolver um estudo sobre uma perspectiva de construção de personagem que deu origem à Oficina Negro Olhar - do movimento ao gesto. Com essa oficina, em parceria com o SESC, rodou pelo país ao lado de Fabio Simões Soares, multi-instrumentista e pesquisador da musicalidade africana. Além do prêmio por Falas Negras, também ganhou o prêmio de melhor atriz pelo filme ROSAS, de Ivan Willing, exibido no Indie Short Film Festival 2020 (EUA), Eastern Europe Film Festival 2020 (Romênia) e Top Indie Film Awards 2020 (Japão).