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Lavou, tá novo!

  • Foto do escritor: Rosa Andrade
    Rosa Andrade
  • 26 de fev. de 2016
  • 5 min de leitura

Brechós online fazem sucesso com os apreciadores de Moda

“Pois esta vida não está sopa e eu pergunto: com que roupa? Com que roupa eu vou?”. Nessa música de 1930, Noel Rosa já evidenciava o drama de não saber com qual roupa sair. O que ele não imaginava é que esse problema seria resolvido com alguns cliques, décadas depois. Desde os anos 70, quando o termo “brechó” se popularizou e passou a designar o comércio de artigos usados no Brasil, muitas mudanças aconteceram nesse mercado. Especialmente para os negócios que atuam no segmento de moda: ao mesmo tempo em que as lojas físicas, com atmosfera de roupas desgastadas e cheiro de naftalina, começaram a ceder lugar a ambientes arrojados e serviços agregados, o acesso online chegou revelando os bazares virtuais. No país, são mais de 120 milhões de pessoas conectadas à internet e, segundo pesquisa da empresa E.Life, 98% dos internautas brasileiros estão cadastrados em alguma rede social, sendo o Facebook a plataforma de maior número de usuários. A busca por moda, no campo de pesquisa, é efervescente. Só no Instagram, conforme o documentário “Mundo S/A” da Globo News, a #fashion já foi postada mais de cem milhões de vezes no mundo todo. No Brasil, a #moda aparece cinco milhões de vezes. Toda essa procura fez com que as páginas de brechós aumentassem. De acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), houve um salto de 30% desde o início de 2013.

Esse destaque é refletido pela mudança cultural dos consumidores brasileiros. As pessoas perderam o preconceito de usar artigos usados e, com as mudanças da economia, encontram, por um lado, a oportunidade de comprar roupas a preços mais acessíveis e, por outro, recuperar parte do dinheiro gasto com a compra de roupas novas ao ofertar produtos para brechós. Como é o caso da estudante Millena Andrade, 17 anos, frequentadora de dez grupos de bazares online em seu perfil no Facebook. “Consigo tirar, em média, 400 reais por mês com a venda das minhas roupas usadas. Às vezes, até mais. Como eu ainda não trabalho, é um ótimo investimento”, afirma. A estudante possui um armário recheado com peças que possui desde os 14 anos e não usa mais. Mensalmente, ela separa algumas pilhas de blusas, calças, shorts e vestidos diversos para postar e esperar até que uma compradora apareça. “Acontece de formar uma fila de meninas por determinada roupa. Geralmente, pelas que eu tenho de marcas famosas como Farm, Cantão, Adidas, Zara. Como na loja elas são muito caras, eu repasso pela metade do preço que paguei”. Essas compras possibilitam economia que vai até 80% em relação aos estabelecimentos tradicionais.

Além de poupar dinheiro com roupas, as aficionadas por brechós virtuais também economizam em frete. O mais comum é marcar a venda pessoalmente, em algum lugar público e de fácil acesso para ambas as partes. “Sempre marco em estações de metrô próximas da minha casa e da minha escola ou em shoppings”, diz Millena. Entretanto, a jovem conta que já abriu uma exceção: “Aconteceu de uma menina morar muito afastada de mim, mas ela me pediu tanto um vestido que acabei indo lá”. Essa praticidade de levar um objeto até as mãos do seu comprador é uma das vantagens que o virtual tem sobre o brechó físico. “Já tentei ir a um em Copacabana, mas era muito apertado e quente. Prefiro ver com calma, deitada na minha cama e com o computador no colo”, brinca a menina. A possibilidade de pedir fotos no corpo para a pessoa que está do outro lado da telinha também é um atrativo. “Tem roupas que são lindas na foto, mas de repente, ao vestir, podem ter um corte estranho, ou ser muito curtas ou decotadas para você”.

Quem entende bem desse processo de compra, venda e busca pelo melhor look é Mariana Santos, 27 anos, moderadora da página “Hipstrechó”, uma das mais acessadas do Facebook. O grupo criado em 2013, contava com 19 mil pessoas. Em 2015, já são 33.800 membros. ”Todo dia, eu e outras administradoras aceitamos por volta de trinta solicitações de usuários para entrar”, comenta a universitária. O convite para fazer parte do brechó online vem de outros participantes, que podem convidar diretamente por um link ou por email. Depois que o pedido é aceito, a pessoa fica livre para comentar e postar o que quiser. Nesse momento, o trabalho de Mariana é ficar atenta às postagens e reclamações que ocorrem. “Algumas meninas brigam por peças defeituosas que receberam, por terem ’levado um bolo’ ou até mesmo porque outra mais esperta tentou passar à frente na fila por alguma roupa. Então damos avisos e se ainda persistir a confusão, elas são banidas do grupo”, explica. Para evitar essas situações, ela dá a dica para a hora da venda: “Tire foto e deixe claro o tamanho, preço e local de entrega. Procure sempre dar informações precisas e um número de telefone para contato. Imprevistos acontecem, mas as pessoas merecem ser avisadas”.

Seguir esses passos corretamente pode render, além de uma compra satisfatória, uma bela amizade e parceria nos negócios. Como foi o caso da estudante Camila Moraes, 21 anos, e da publicitária Camila Bezerra, 23. As duas tinham, além do nome em comum, o acesso frequente ao mesmo brechó virtual e gostos parecidos. Uma comentava no post da outra, e sempre acabavam trocando suas peças. Os encontros passaram a render várias conversas e a descoberta de interesses em comum. Dessa amizade nasceu também a ideia de juntar tudo que tinham e não queriam mais para vender juntas, o que originou a marca “Cami Lá”. “No início, eram só coisas nossas. Depois passamos a revender peças de sites estrangeiros”, explica a publicitária. As empreendedoras contam que para manter os lucros com a marca, sempre estão atentas à moda do momento. “O que mais tem saído são os croppeds (top acima do umbigo), as estampas étnicas e hindus, calças de cintura alta, blusões jeans, quimonos com franjas e body chain (colar com voltas que envolve o corpo e pode ser usado de várias maneiras)”. E agora, com o sucesso da linha própria, elas contam o que fazem com as roupas que não usam mais: “Sempre vai ter um espacinho para os nossos próprios desapegos, que vão renovar o guarda roupa de alguém”.

Brechós e Sustentabilidade

Uma boa lavagem, linha e agulha fazem milagres e evitam desperdício. A reutilização de algo que já foi de outra pessoa, mas que, por isso, não será apenas jogado no lixo, poupando a natureza de todo o trabalho de decomposição do objeto. É o chamado “consumo consciente". Comprar em brechó é evitar que algo seja jogado fora, aumentando o volume de itens em aterros sanitários e diminuindo a poluição do meio ambiente. Como um bazar conta com produtos usados, não será necessário o uso de recursos naturais para fabricação de novos itens.

Por exemplo, para somente produzir um 1kg de algodão são utilizados, em média 20 mil litros de água. Por isso, é bom prestar atenção no material que compõe a roupa. O calçado Melissa é feito de PVC, que é 100% reciclável. Portanto, se o destino for a lixeira, poderá ser direcionado ao recipiente seletivo. Se mesmo assim, ainda sobrarem peças que precisam ser descartadas, o ideal é levar para uma cooperativa de reciclagem. Os tecidos são reciclados para produzir diversos outros produtos.

Reportagem realizada para fins acadêmicos

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