Prédio desaba em SP e mata pessoas em todo o Brasil
- Rosa Andrade
- 4 de mai. de 2018
- 2 min de leitura
Rastros de humanidade são procurados em volta dos escombros
João de Jesus, 52 anos, era carroceiro e perdeu a ferramenta de trabalho durante o incêndio. Porém, conseguiu salvar a mulher, filhos e a inseparável cachorrinha. Marcos Henrique, 15, mudou-se para o edifício após seu antigo barraco pegar fogo também. Ricardo, 30, trabalhava com descarga de caminhões, gostava de tatuagens e patins. Ele conseguiu escapar do incêndio, mas voltou para ajudar as famílias que moravam em andares mais altos e acabou caindo junto ao prédio enquanto era resgatado. Essas são só algumas vidas dentre as 372 que ocupavam o local no Largo do Paissandu, no Centro de São Paulo.
Contudo, outras milhares de vidas questionam essas pessoas e suas ocupações irregulares. “É justo morar em prédios sem pagar os mesmos impostos que nós?”, “Por que preferir viver nessa sujeira do que em abrigos?”, “Por que precisam morar no centro? É só pegar trem, eu sou pobre e consigo”, “Não votou no candidato X? Agora, aguenta. Isso é culpa desses movimentos”. Essas perguntas traduzem o atual momento que o país vive: imposição de opiniões, falta de empatia, culpabilização da vítima e desconhecimento de outras realidades.
Uma matéria da Folha de São de Paulo, de 2016, lista maus-tratos, separação da família, superlotação e falta de autonomia como motivos para pessoas sem-teto evitarem abrigos. Em um trecho, um dos personagens cita: “ Tem tanto prédio construído. Podiam fazer CDHU, pegar nossos nomes e colocar a gente pra morar lá dentro. A nossa parte a gente tinha de fazer: pagar a luz, a água e o gás. Se dessem essa oportunidade.... É isso que eu estou esperando. Eu não. Nós todos.”.
E, sim, os questionamentos sobre oportunismo de grupos que cobram desses moradores em benefício próprio, além da negligência na fiscalização de segurança por parte do Estado, devem ser investigados, cobrados e respondidos. E o foco deveria ser apenas nesses pontos. Já que o ideal ainda não é alcançável, que é entender a raiz do problema. Afinal, o déficit na Educação impede a compreensão das relações e fenômenos sociais que, por acaso, são entendidos pela Sociologia, aquela área tão diminuída após uma certa proposta de reforma. A informação liberta e pode ajudar na busca por sobreviventes dessa e de tantas tragédias, principalmente daqueles que ainda nem nasceram ou são pequenos demais para entender o porquê de tantos problemas.

Foto: Marcelo Justo/UOL
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